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Análise Musical da Sonata 8 em Lá menor (Am) KV310 de Mozart - Parte I

postado por Carlos A Correia em 5/08/2009



Análise Musical da Sonata No.8 em Lá menor
de Wolfgang Amadeus Mozart - KV 310

obs.:as imagens da partitura foram extraídas do NMA e lá consta esta sonata como No.9 (K.311) e não como No.8 (K.310). Obrigado para aquele que me chamou a atenção.


 


Iniciaremos nossa primeira jornada com uma peça de W.A. Mozart: primeiro movimento da Sonata 8 de Mozart, em lá menor, KV310.



Este é o primeiro post de nosso blog que faremos uma análise o mais completa possível. Faremos uma análise harmônica, de forma e de motivos.

Esta é a primeira parte da análise (Parte I). A a parte II você poderá acessar ao final do nosso post.

Na Parte III, faremos uma reengenharia desta obra. Iremos simplificá-la para o que chamamos de forma acadêmica, onde os temas e frases são "simplificados", ou melhor, são "quadrados", onde utilizamos a expressão "quadrada" de modo pejorativo.




Parte I
 


Esta Sonata 8 de Mozart tem a estrutura musical clássica chamada forma Allegro-Sonata:

Exposição - Desenvolvimento - Reexposição.


Esta primeira parte vai tratar somente da Exposição, onde os elementos são introduzidos.

A segunda parte tratará do Desenvolvimento e da Reexposição.

Abaixo, temos a partitura desta obra. Clique nas imagens para ampliá-las!



pág. 1

pág.2

obs.: imagens da partitura de Mozart retiradas do site NMA



EXPOSIÇÃO

Tema A: Sentença (c.1 a 9)





É notório sua divisão em 2 partes (1a. parte: c.1 a 5; 2a. parte: c.6 a 9).

A primeira parte é composta por um modelo (de 2 compassos) que é repetido literalmente, tendo uma conclusão no c.5 (em cesura). Acredito ser prematuro afirmar que esta cesura seja uma conclusão de fato, pois podemos perceber no c.8 a 9 (2a. parte) uma conclusão mais definida.

Portanto, prefiro definir o Tema A como uma sentença, sendo a 1a. parte o enunciado e a 2a. parte o complemento. Com isso, há uma extensão (c.5) fazendo com que a sentença tenha 9 compassos, e não 8 (padrão). Na Parte III (última) desta análise vou definir como seria o Tema A sem a extensão.


Transição: c.9 a 22; 2 Seções (S1 e S2); Temático baseado no Tema A;





Inicia-se igual ao Tema A, parecendo que o Tema A está sendo repetido (o que a primeira vista poderia confundir a classificação do Tema A não como sentença, mas como período), porém muda de rumo no c.12 para outra região.

No c.16 inicia-se uma nova seção (S2), concluindo-se através dos compassos c.21 e 22.

A transição inicia-se na região t, passa para M, depois para m (S2 c.16), concluindo na dominante de m ou M.

Em S2 começa a aparição das semicolcheias, o que será utilizado intensamente no resto da peça.

No c.17 (S2), o acorde I é transformado em II+ (segunda aumentada - F#-Ab-C-Eb), aparecendo pela primeira vez na peça. A nota Sol se encontra como nota pedal (o que poderia ser substituído por F# ou Ab).



Tema B: constituído de B1 e B2; c.23 a 45


B1: c.23 a 35 (2 partes)






Inicia-se com um modelo de 1 compasso (c.23) que depois é sequenciado mais 2 vezes, concluindo-se no c.26.

Estes 4 primeiros compassos passam a formar um grande modelo (1a. parte c.23 a 26) que, aparentemente, será repetido em seguida (c.27), mas no c.28 o modelo não é repetido, tomando uma nova forma (2a. parte).

Aqui a genialidade de Mozart novamente se faz presente, pois ele deixa uma pista falsa de que vai haver uma repetição do modelo (1a. parte), mas esta 2a. parte de B1 tem muito mais elementos, contornos diferentes, e, principalmente, maior extensão devido a inserções e uma cadência típica Mozartiana (c.33 a 35), usada em diversas outras obras.


Esta 2a. parte deveria ser uma repetição variada da 1a. parte?

Ou as 2 partes formam uma estrutura única?


Tirando o primeiro compasso que é quase uma repetição literal (m.e. uma oitava abaixo), o resto sai totalmente da simplicidade da 1a. parte.

Mas podemos perceber alguns elementos de ligação de ambas as partes:
  • a cesura com conexão (c.26) é repetido em c.32;
  • as semicolcheias estão presentes quase como um ostinato;
  • o m.3.2b (ver motivos abaixo) apresentado inicialmente na 1a. parte é repetido no c.30;
  • em ambas as partes iniciam-se com a sequencia de acorde I - II.
Outro ponto menor, mas não menos importante, de se notar é que a introdução de B1, feita pelas 3 colcheias em anacruse (c.22), não é mais repetido, e sim, substituído por uma conexão em semicolcheias (c.26), usada em outros momentos.

Devido a estes pormenores, após a análise da peça voltarei a comentar sobre B1 (ver Parte III).



B2: c.35 a 45

Tema B2 da Expo



É uma consolidação dos motivos usados anteriormente.

Parece que Mozart, devido ao seu senso de forma, criou B2 como uma necessidade de fixação dos motivos já apresentados, e introduziu elementos que serão reaproveitados no desenvolvimento.

É claro que ele não deve ter criado B2 porque viu que deveria fixar os motivos, isso deve ter sido algo muito intuitivo a ele.

B2 utiliza-se dos motivos m.3.2, m.3.1 e m.1.2, sendo que o m.3.2 parece estar deslocado de uma semínima (c.35 e 36).

A sua estrutura é simples: consiste de um modelo (c.35 a 40) e uma repetição quase literal, cuja ideia principal é a inversão melódica entre as vozes (m.e.  versus   m.d.).

A 3a. voz apresentada pela m.d. no c.42 tem um grande impulso que será utilizado largamente no desenvolvimento e que leva o ouvinte para a codeta da exposição (ou tema final).


Codeta: c.45 a 49


Codeta ou Tema Final da Expo


Tem uma estrutura simples de Mod+Rep, reforçando um modelo cadencial (utilização dos graus I - II65 - V - I).

Mas a ideia principal da codeta é reintroduzir o motivo inicial da sonata (m.1): servindo de base para a volta da exposição (ritornello) e para início do desenvolvimento.



Até aqui finalizamos a análise de toda a exposição da sonata de Wolfgang Amadeus Mozart:
 A-Tr-B-codeta

Seguem os motivos principais da sonata, incluindo as suas alterações e transformações:





Na próxima postagem (Parte II) continuaremos a analisar o desenvolvimento e a reexposição.


Na Parte III darei algumas considerações gerais sobre essa nossa primeira análise!


Saudações a todos,


Carlos Correia


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